
Temos o ponto de vista das duas em relação aos acontecimentos na fazenda e na casa da cozinha (onde alguns escravos da casa-grande moram).
Centrado, então, em personagens femininas, o livro é um relato dessa relação próxima e complexa entre patrões e escravos, entre os próprios escravos, suas lutas, seus problemas, seus anseios. Mostra também a crueldade de certos senhores de engenho em contraste com aqueles que, dentro de um limite social imposto, tentam tornar a vida dos escravos melhor.
A autora também acentua bastante a condição da diferença entre a cor da pele até mesmo entre os escravos. Os que são gerados a partir de pai branco e possuem uma pele mais clara obtêm certos privilégios.
Ambas com pele clara, Belle se conforma com seu papel de filha ilegítima, enquanto Lavinia é aceita na casa-grande conseguindo alguma parte da atenção dispensada aos filhos legítimos. Lavinia vai absorvendo tudo que lhe é oferecido: instrução, educação, roupas, contatos. Mas quanto mais se aproxima de um mundo novo, mais se afasta de sua família substituta. Com coração divido, Lavinia tenta aproveitar de sua condição para levar algum benefício a sua família da casa da cozinha. Mas chega um momento que Lavinia precisa tomar uma decisão e escolher em qual mundo ela deseja ficar.
Escravas de coragem é um texto simples, direto, que cutuca questões da escravidão, do racismo, do relacionamento entre as pessoas, de como é ter uma família que te acolhe, que te escolhe, quando você não possui mais ninguém na vida.
Como é um romance, não podemos exigir só fatos duros, como se fosse um documentário. Mas Kathleen Grissom não floreia, nem tenta abrandar certas passagens. Ela não exagera no sangue, mas também não o esconde.
Testado por Rafaela